RESENHA | “Querida Sue” e a beleza de escrever cartas

Caio Fernando Abreu dizia que existem coisas que só podem ser ditas em cartas e, como não escrevemos mais cartas, existem coisas que nunca são ditas. Salvas as devidas proporções, eu concordo. A caneta no papel datado e geograficamente identificado tem muito poder.

A prova disso é a história de Elspeth Dunn.

Querida Sue” se passa em dois períodos, simultaneamente: a Primeira Guerra e o recente início da Segunda Guerra Mundial. Narrado inteiro em cartas, conhecemos Elspeth, uma poeta que mora na pacata e escocesa Ilha de Skye. Ela se corresponde com o americano David Graham, um leitor de seus poemas que, hospitalizado, aproveita para escrever sobre sua admiração.

A história se desenvolve e conseguimos ler nas correspondências de Elspeth e Dave um algo-a-mais que excede a admiração entre poeta e leitor. E isso seria lindo, porque o amor é lindo. Mas a poeta é casada e seu marido está na Guerra.

Simultaneamente, lemos as cartas de Margaret. Ela está nos anos 1940, apaixonada por um piloto da Força Aérea. A sua mãe não gosta da ideia desta paixão por guerrilheiros e no início do livro tenta convencê-la de que o amor não vem do desespero (e ela está certa, em partes). Porém, ela está desaparecida há 30 anos e a única forma que Margaret tem de tentar reencontrar a mãe são as cartas deixadas para trás.

Este é um daqueles livros que não nos encantam pela ação do enredo, menos ainda pelo universo ficcional criado. É palpável. Somos eu e você, escrevendo cartas. A autora te encanta pela veracidade dos personagens, a facilidade com o qual nós somos capazes de nos identificar com eles e, sobretudo, com a simplicidade com a qual fala de amor.

As histórias costuradas por cartas nos levam a crer profundamente na verdade absoluta de que o amor é o ato conhecer o outro. E eu duvido que você encontre uma forma melhor de fazer isso do que numa carta de próprio punho assinada, datada e selada, rumo a alguém cujo nome é a primeira coisa escrita ao colocar a caneta num papel para dizer: “Hoje, pensei em você”.

QUERIDA SUE 

Editora: Arqueiro
Média de Preço: R$ 34,90
Formato: 16 x 23 cm
N° de Páginas: 256
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A poesia da contradição escrevendo uma coletânea vitalícia de histórias que vivi e inventei.