Eu nunca fui uma mulher difícil

Sempre deixei claros meus sins, meus nãos e meus nuncas. Nunca fiz questão de fingir o que não me parecia certo, menos ainda fiz cena pra poupar possíveis decepções. Poupar só dinheiro e olhe lá: todo sentimento que não é inteiro não vale o terço que é.

A vida, as pessoas, os amigos insistem em jogar na cara que mulher que é boa “se valoriza”. É difícil de pegar, de ter, de amar. Que mulher que se preze tem neurose, tem ciúme e não aceita nada logo de primeira.

Eu não consegui ser assim (nunca fiz questão de tentar). Meu eu tá mais pra quem fala que sim quando sim e com certeza quando o sim é pouco. Ser difícil exige joguinhos e eu só acredito na verdade absoluta.

Eu nunca fui uma mulher difícil e isso me trouxe noites de paz. Paz em saber que honrei com minhas vontades e com quem eu sou. Eu nunca fui uma mulher difícil e as pessoas que encontrei pelo caminho sempre entenderam o porquê. Entenderam que interesse todo mundo tem. Que existem “não quero” que só significam “não” e nunca passaram perto do “tente outra vez”.

Ser uma mulher que não é difícil me deu abertura pra ser uma mulher que sabe o que é, o que quer e, mais importante: exatamente o que não tolera.

Ser uma mulher que diz “sim” me permitiu ser uma mulher que diz “não” e é ouvida.

As circunstâncias cotidianas vão nos fazendo questionar se é assim mesmo, se precisa dessa verdade toda, se não era melhor só baixar a bola. Mas não é: nunca é. O melhor é seguir o que se quer e ser fiel à única que nunca vai te deixar.

Já apanhei, me decepcionei, caí e tive muita vontade de não levantar. Mas levantei. Honro minhas vontades como honro quem eu sou e eu sou de pé. Hora ou outra, todos caímos. Não sou difícil, mas não sou de ferro.

Porque eu nunca fui uma mulher difícil e a vida se encarregou de todo o resto.

A poesia da contradição escrevendo uma coletânea vitalícia de histórias que vivi e inventei.