Esse livro é bom?

Leio muito desde muito nova. Meu pai é teólogo (na faculdade, leu mais do que o que é pedido para completar o bacharelado de direito, por exemplo) e sempre me incentivou a engolir palavras. Comecei com o bom e velho Sherlock Holmes e seus casos loucos e praticamente insolúveis. Fui de Um Estudo em Vermelho (221B Baker Street) aos Cães de Baskerville em um bimestre do colégio.

Depois disso, pulei pros Diários de Princesa. Li todos em uma semana. São uns dez. Meg Cabot se tornou uma das minhas autoras preferidas. Engoli todos os seus livros.

E aí desleixou. Li a biblioteca das minhas amigas que me emprestaram essas duas coleções, a biblioteca do colégio e a biblioteca do meu pai.

E aí chegou a hora de montar a minha.

Caraca, que tarefa complicada.

Naquela época, a ideia era de encher a estante de livros bons que enchem os olhos, com capa dura e exclusivíssimas coleções de grandes autores. Comprei (e li) Poe, Arthur Conan Doyle, Dostoiévski, Machado, Eça, José de Alencar, Einstein, Caio Fernando. Absorvi conhecimento da fonte que sempre haviam me dito que era a melhor – e única que prestava – e saía por aí arrotando a tal absorção de boa literatura.

Mas… o que é literatura ruim? Existe isso?

Algum tempo atrás, escrevi um texto sobre os problemas que tenho ao escrever. O maior de todos (além do meu péssimo hábito de ignorar a necessidade do uso de letras maiúsculas) tem a ver com os academicismos impostos pelos estudiosos. Pessoas mandando em pessoas e dizendo quão boas são as produções artísticas de outras pessoas.

Ah, dá um tempo.

Arte é arte. É feita pra emocionar. Se desperta algum sentimento (não precisa ser bom), tá aí: arte, válida e, por que não?, boa.

Quando li Meg Cabot, me emocionei com Mia Thermopolis. Vivi cada um dos passos da personagem principal de “Sorte ou Azar?”. Até hoje mantenho os diários que só voltei a escrever depois de ler Meg – a primeira inspiração veio da novela mexicana “Os Diários de Daniela” que também não era lá muito bem visto como produto cultural.

E aí? Não conta? Só porque é literatura de massa é ruim?

Só teria validade se eu tivesse me inspirado nos diários de Jack Kerouac?

Por quê?

A gente tem que desistir dessa ideia de que existe livro bom e livro ruim. Existem livros. Existem blogs, portais, sites. Tudo é literatura e, se emociona, é válida. Se te causa arrepio, calafrio, risada, choro, aperto no peito, identificação… Bem, tá aí. Funcionou.

Quando John Green estourou, chamaram de literatura fraca pra adolescentes e julgaram quem lia. Quando Rainbow Rowell estourou com “Eleanor & Park”, foi chamada de simplória – e nesse livro ela também concorda com meu ponto e diz que “a arte não foi feita para parecer bonita, ela foi feita para te fazer sentir alguma coisa”. Quando Nicholas Sparks estourou, só xingamentos: é proibido gostar de “água com açúcar”.

Só pode gostar de romance se for Madame Bovary. Ler Dan Brown? Nem pensar! Leia as histórias de Dupin, do Poe, para saber o que é ação! Desista do seu romance de banca e aprofunde-se na literatura erótica de Hilda Hilst!

Nunca deixe que te digam que você não lê bons livros. Não deixe que elitizem seu gosto para livros. Não deixe que te digam que é fraco. Que você precisa ler os livros que os cultos leem, que a casta lê, que quem entende de literatura lê, que os críticos indicam.

Leia o que te dá brilho nos olhos. Leia o que te faz perder o ponto do ônibus. Leia o que te faz querer escrever até na palma da mão. Leia o que te leva pra outro universo. Leia o livro que, da capa ao ponto final, te inquiete. Leia, leia, leia! Leia o que te fizer sentir.

A poesia da contradição escrevendo uma coletânea vitalícia de histórias que vivi e inventei.