Baia, um suingue pra te consolar

Pouca coisa é tão boa quanto a sensação de conhecer uma banda nova. Melhor ainda quando é uma semi-nova, com aquele gostinho de “eu já ouvi isso antes, por que não prestei atenção?” – que foi exatamente o que aconteceu quando meu aleatório escolheu “Tu”, do Baia. E daí que eu tava num daqueles dias em que o pico de stress acontece naquele momento específico que você tem um milhão de pendências, zero soluções fáceis e o Spotify começa uma música que você já não aguenta mais ouvir. Pois bem. Spotify, sem qualquer noção ou emoção, indicou “3×4”, do Engenheiros. Eu amo Engenheiros, cês sabem, já falei do Humberto aqui pra vocês, mas… sério? 3×4? Hoje, 15h34, parece um bom dia pra isso?

Fiquei POSSESSA. Respirei fundo. Próxima música.

Uma batida nova. Conhecida, mas nova. Não conhecia o suficiente pra reconhecer, mas reconheci o suficiente pra deixar tocar.

 

Tu.

É zero caloria.

Me abre o apeti-te.

Sódeteolhareusintofome.

 

Música delícia. Parei tudo. Dane-se o trampo. Abri o artista. Maurício Baia, o nome. Ele continua:

 

Olhaqueeutôdedieta.

Mas tu é light

olhaqueeutôdedieta

mas tu………………………….

Tu é zero caloria

Tu é passo leve de guiar

Tu é prosa boa de curtir

 

Eu sei. Genial. E não pára por aí. Tem uma outra que começa com um violão delicioso e canta assim:

 

Eu lembrei de ti

Que sempre quer botar o pingo do i

Em ypisolone

O que que há?

Parece que até que eu sou um livro mal escrito

E que você é uma caneta cor vermelha

Rasurando o que não aceita, nem consegue decifrar

Outras vezes você tenta feito louca rasgar as minhas páginas

 

E a música é tão inteligente e tão sagaz e a melodia combina tão bem que termina assim:

 

E me ameaça quando diz: “Eu vou embora”

Vá!

Você tem seu direito de ir e vir

Mas eu tenho o meu de querer ficar
Não precisa de um pedido de habeas corpus

A porta está aberta

Tchau!

 

É. Eu sei.

 

Baia é aquele artista que disseca as palavras uma-a-uma e coloca todas na melodia como quem encaixa olhinhos no boneco de massinha com a preciosidade de uma criança. Escutar Baia é um respiro num dia ruim, numa semana ruim, num momento de pouca inspiração ou na hora que você precisa de alguém que grite pra você:

 

Jamais deixe de lado seu lado bom
Esqueça seu problema, venha curtir um som
Porque daqui pra frente tudo fica diferente

 

E fica mesmo, porque ele avisa a gente em cada música – não só nessa – que a trilha sonora da trilha que eu trilho, ele traga e assopra no ar. Sorte de quem tá perto.

 

Daí você deve estar pensando: ok. Ele é um cara muito bom. Mas e quando a gente quer abraçar o travesseiro e sentir aquele amorzinho gostoso de paixão que só a música traz? Ele tem música pra isso também. E é um disco todo que serve como um abraço. Mesmo que você não tenha uma grande paixão, nem pelo quê abraçar o travesseiro, essa aqui… essa aqui vai te arrepiar “toda” (trocadilho permitido):

 

Eu não sei daqui, eu não sei do Dali
Eu não sei do Bruce e nem da Rita Lee
Nem do criado mudo, nem do vôo cego
Nem do Super Homem, nem do Superego
Eu só sei de quem eu quero


Quero você com teus erros
Defeitos, segredos
Tua forma de gostar
Quero você do teu jeito
Porque se eu te quero
Eu tenho que te aceitar
Toda

 

E eu poderia ficar pra todo sempre tentando te convencer que esse cara é muito incrível – sei que já convenci -, mas vou parar por aqui. Afinal, eu costumo escrever logo pela manhã e…

 

A fila é do cidadão
Que sempre acorda
Atrasado
Pega fila no banheiro
Escova os dentes
No chuveiro
E nem consegue se secar
Todo molhado
Na fila da padaria
A rotina continua
O dia já vai começar

 

Então… Bom dia! 😉

 

E, se nenhuma dessas funcionou, aqui tá um suingue pra te consolar. De nada.

A poesia da contradição escrevendo uma coletânea vitalícia de histórias que vivi e inventei.