Os medos infantis podem causar traumas?

Bicho Papão, homem do saco, histórias com criaturas sinistras ou filmes de terror. Quando criança, quem nunca teve uma experiência nesse mundo de medo e fantasia? Esses elementos fazem parte do imaginário popular e boa parte dos pais gosta de usar dessas figuras para brincar ou até pra assustar a criança, na tentativa de que ela atenda a um pedido ou crie medo de algo que não deva fazer.

A questão é que seja dentro ou fora de casa, os pequenos acabam tendo conhecimento desse mundo que envolve seres macabros. A pergunta que fica é a seguinte: esses medos interferem na vida das crianças? A resposta é sim! Até determinada idade, elas não têm noção do que é realidade e fantasia e isso pode criar alguns traumas com o que se viu ou ouviu.

“Os adultos possuem a capacidade de diferenciar a realidade da fantasia e compreendem que as imagens se tratam de ficção, porém, para uma criança, que ainda não tem a mente amadurecida para tal diferença, os filmes e histórias de terror podem gerar traumas e angústias que podem percorrer a idade adulta”, afirma a psicóloga Renata Reis.

Isso reforça a importância do cuidado que nós, pais, devemos ter com que os pequenos ouvem, leem e assistem, mas além dos meios de comunicação e relacionamento interpessoal fora de casa, não devemos esquecer que quando queremos punir ou ameaçar as crianças para que se comportem melhor acabamos citando aqueles velhos conhecidos: bicho papão, boi da cara preta e homem do saco, por exemplo. Vocês não sabem o quanto isso pode ser prejudicial ao desenvolvimento!

“A criança, ao se sentir ameaçada, pode ter diversos traumas que atrapalham no seu desenvolvimento e amadurecimento, além de, inclusive, se tornar crianças inseguras e solitárias durante a fase adulta”, reforça a psicóloga.

Pensando nesses medos como fatores traumatizantes, devemos dobrar o cuidado com o que eles consomem e com a forma que nós usamos essas figuras de mundos fantasiosos. Meu filho Pedro, por exemplo, que tem dois anos de idade, conheceu a história dos “Três Porquinhos” e fixou na cabeça o temido Lobo Mau. Só fala nele e só pensa nele. O meu papel, como mãe, não é privá-lo desse tipo de conto infantil, mas sim o de mostrar que ele não existe no nosso mundo real, que é apenas um personagem. É difícil, porém é possível. 

OS MEDOS INFANTIS DE ACORDO COM A IDADE 

Segundo um artigo publicado na Revista Crescer, existem algumas faixas etárias entre 0 a 6 anos que são medos comuns entre as crianças. Aqui abaixo, reproduzimos essa tabela de acordo com a idade.

ATÉ 7 MESES
De barulhos inesperados e luzes fortes. Evite expor a criança a qualquer estímulo intenso. Se não for possível, faça de maneira suave e verifique como ela reage.

DE 7 MESES A 1 ANO E MEIO
De pessoas, ambientes e objetos novos; de perder os pais, pois acham que pessoas desaparecem quando não estão ao alcance de seus olhos. o pai, a mãe ou o cuidador devem estar presentes quando o bebê for exposto a situações novas.

DE 1 ANO E MEIO A 3 ANOS
Do escuro, de pessoas com máscaras ou fantasias, de ficar sozinho. Ao encontrar alguém fantasiado, aproxime-se devagar e mostre que é apenas uma roupa diferente. Se ele não gostar, não force.

DE 3 A 5 ANOS
De monstros, fantasmas, da escuridão, de animais, chuva, trovão, de se perder. Respeite a criança, permitindo que se expresse, e explique que nada lhe acontecerá de mal. Quanto ao medo de se perder, faça-a decorar o nome inteiro e o telefone de casa e a ensine a pedir ajuda. Ela se sentirá mais segura.

A PARTIR DOS 5 ANOS
De ser deixado na escola, de bandido, de personagens de terror. Insegurança melhora com diálogo. Se o medo for de bandido, reforce, por exemplo, a importância de ficar perto de adultos conhecidos. Para a criança se sentir segura, diga que alguém sempre estará cuidando dela na escola.

A PARTIR DOS 6 ANOS
Da própria morte e da dos pais, pois já a entende como algo irreversível; medo de ser criticado. Se houver perguntas sobre morte, não invente histórias absurdas, diga a verdade de forma delicada. E quanto às críticas: explique que elas nos ajudam a melhorar.

Sarah Bejar é jornalista, mãe do Pedro e dá dicas para mães, gestantes e tentantes no Blog Mães em Sintonia.