O amor que a gente sente

Falar de amor é sempre uma tarefa estranha.

Durante muito tempo, preferi viver longe, mantendo a distância saudável e necessária pra que ninguém se machucasse: que não houvesse choro, que não houvesse farpa, que não houvesse dor. Sem estar perto, não tem B.O. Você aproveita a parte boa, dá umas risadas, conhece gente legal e, quando começa a irritar, dá o fora.

Queria dizer que, depois de um insight e de muito pensar, mudei de ideia. Mas seria uma mentira gigantesca.

O amor veio pra mim num tapa, num soco e num equívoco meu: não era só carinho, não era só admiração. O incômodo da dúvida de “será que ele também sente isso?” não era mais o orgulho com medo de perder. Era o meu peito gritando por alguém que valia a pena e que estava a um “vamos ser amigos!” de se transformar numa história que poderia ter sido linda.

Num relance, arrisquei. Rainha das palavras, do textão e do sentimento, resolvi botar pra fora tudo o que me afligia. Não me lembro ao certo o que escrevi, mas lembro claramente de ter dito: “eu sou uma pessoa de muitos sentimentos e você me desperta vários”.

A resposta dele, na hora, foi a pior de todas: nem sim, nem não. Eu amo o muro e daqui não vou sair. Aquela coisa: você é legal, nosso papo é bom, mas vamos indo como dá e a gente vê onde chega. (Não deu uma semana até que eu recebesse um convite pra viajar. Pra quem queria ir devagar, né? Geminianos…)

Essa indecisão. O meio sim, meio não. Nem lá, nem cá. Isso queimava meu coração. Em cima do muro é horrível. O amor não cabe no muro.

O amor pede espaço.

O amor pede espaço no peito, na mesa, na roda, nos sonhos, na agenda. Amor é tentar junto, não conseguir junto, torcer pelo outro e se alegrar quando dá certo. Você aprende, amando, que a vida é dar: abrir as duas mãos e entregar. E você aprende, amando um bom amor, que a vida também é receber: manter abertas as mãos e se surpreender com o que o outro está disposto.

Amar é se disponibilizar. Não precisa de muito: o amor está escondido num lanche quando o outro precisa comer alguma coisa. O amor é aquele “deixa que eu pago hoje” quando você está menos falido do que o outro. O amor está escondido no beijo surpresa na bochecha que bate de frente com uma cara feia; na mão que acaricia, no abraço, no “vi isso e lembrei de você na hora!”.

O amor cabe encaixadinho num abraço bem dado no fim de um dia ruim.

Amar é respirar fundo no meio de uma tempestade e dizer “eu não gosto dessa situação, mas eu gosto de você demais pra continuar essa discussão” ao invés de esbravejar aos quatro cantos a raiva e o rancor. Amar é saber mudar, alterar, aprimorar a si mesmo pra que o outro possa fazer o mesmo por você.

Amar é se abrir com sinceridade, expressar tudo num sorriso. Usar o silêncio a favor e saber ouvir. Amar é entender.

E eu só sei disso tudo, porque depois de tanto apanhar, ouvir nãos que eu não queria, sims que eu não precisava e um milhão de desculpas das mais babacas que se pode imaginar, encontrei um amor equilibrado que não cabe em “exagerado”, do Cazuza, nem na mansidão das canções da Mallu pro Camelo (apesar dele ser eternamente o meu Marcelo Camelo pessoal). Eu só sei disso tudo, porque depois de tanta gente fraca, eu encontrei um amor que cabe em mim. E, por isso, desde que eu o conheci, o meu dia dos namorados troca de data toda manhã.

A poesia da contradição escrevendo uma coletânea vitalícia de histórias que vivi e inventei.