(não) Foge, coração burro

Eu sempre fui da turma do talvez. Até ficava por um tempo. Dividia um espaço no sofá, um copo e algumas histórias. Ficava durante um filme ou a embriaguez. Mas antes dos créditos finais ou quando o sol começava a aparecer, eu sorria e ia embora.

Percebi que era você quando quis te abraçar forte antes de fechar a porta. E, logo depois, quando cheguei em casa querendo te transformar em um texto e a página ficou em branco. Pela primeira vez não consegui cuspir palavras pra me livrar de um sentimento.

Não quis nomear o que sentia, por medo. Se não era amor, por que a gente se olhava daquele jeito? Era só meu corpo se juntar ao seu e logo ignorava minha mente, que passava tanto tempo, em vão, gritando “foge, coração burro”.

Você me fez desacelerar, me deu a mão e fez entender que eu não precisava mais fugir, porque estávamos juntos nessa. E seus olhos me diziam, com todas as letras, que se eu fosse perder alguma coisa, seria o medo.

Eu, que sempre fui furacão, quis ser um sopro por você. Assumi tudo aquilo que achava bobagens do coração e me joguei sem paraquedas no sim.