Britney Spears e o playback: por que?

Britney Spears é um nome que, mesmo há quase 20 anos na mídia, causa frisson e inquietação onde quer que seja mencionado. Sua jornada controversa, e um tanto mística, aguça a curiosidade de muitos e faz com que seja motivo de comoção, não importa em qual âmbito de sua carreira ou vida pessoal.

Um dos mais famosos tópicos a serem discutidos sobre Spears é uso exacerbado do playback e a não preocupação em mostrar sua verdadeira voz. E isto se tornou tão comum e corriqueiro que o fato de ela ter deixado de cantar ao vivo há anos não é pauta principal em debates de fãs ou críticos musicais. Tudo é levado na sutileza.

Todavia, existe uma explicação cabível a este fato.

Por que Britney não canta em seus shows?

Antes de lançar seu primeiro single, “…Baby One More Time”, Spears vivia numa pequena cidade no interior dos EUA. Viajou à Nova York para tentar carreira no teatro musical. Conseguiu um papel num espetáculo “off-Broadway” e, depois de alguns acontecimentos, ingressou no “Clube do Mickey”, programa infantil produzido pela Disney. Isso depois de participar do show de calouros, “Star Search”.

Neste vídeo, podemos ouvir como soava a voz de Britney antes de seu contrato com a gravadora que alavancou-a para o mundo.

Sua voz era bem impostada, um timbre feroz e uma potência que – na época – equiparava-se a de sua colega de elenco, Christina Aguilera.

Embora muito nova, Britney apresentava uma técnica desenvolvida para sua idade. Arriscava vibrato e drives e, mesmo limitado,  possuía certo controle vocal.

O tempo passou e seu talento se desenvolveu. Até que, depois de muitos “nãos”, Spears encontrou uma gravadora que aceitou assessorá-la, a Jive Records.

Lançado, “…Baby One More Time”, se sobressaiu nas paradas musicais e Britney iniciou apresentações em shoppings pelos Estados Unidos para promover seu primeiro álbum, antes mesmo de ser lançado.

Neste vídeo podemos notar com clareza a mudança e adaptação de seu timbre. Britney passou a cantar acima de sua tessitura, afim de passar uma imagem de jovem garota inocente.

Nesta apresentação, reparamos o quão instável é o timbre de Britney. Por mais que tente usar sua “voz infantil”, ela escapa e canta com sua voz natural em alguns versos. Isto é bem perceptível a partir do minuto 3:00

https://youtube.com/watch?v=ckFvCHCioOM
Depois do sucesso do primeiro álbum, Spears lança seu segundo disco, “Oops…! I Did It Again”. Foi então que entregou-se completamente àquela voz aguda que não a confortava ao cantar.

Nesta performance de “Oops”, Britney canta com extrema dificuldade. Não apenas por forçar uma voz que não dominava, mas, também, por seus movimentos de dança nada plausíveis a quem precisa cantar ao mesmo tempo.

https://youtube.com/watch?v=YZ9SMi3Wmlo
Aqui ela canta seu primeiro hit, “…Baby One More Time”, neste mesmo show. Repare a diferença desta apresentação para apresentações anteriores da mesma música. Sua voz já apresenta falhas e sua emissão é completamente comprometida.

https://youtube.com/watch?v=T2zHqw48E14
“Don’t Let Me Be The Last To Know”, é uma balada presente em seu segundo álbum. É notório seu desconforto ao cantar esta faixa. Percebe-se que sua emissão é bastante baixa e sua estabilidade vocal é quase nula. Tudo culpa de uma força desnecessária feita sob suas cordas vocais.

Então, o terceiro álbum, “Britney”, veio à tona. Nele, a balada, “I’m Not A Girl, Not Yet A Woman”, destaca-se por apresentar um boa performance vocal de Spears. Este live mostra um conforto maior de Britney ao cantar, talvez por não exigir aquela “voz de bebê” a qual utilizava na maioria de sua canções.

Seu quarto álbum, “In The Zone”, possui baladas que Spears, vez ou outra, cantava. Como “Everytime”:

https://youtube.com/watch?v=cdbiuARWcM8

E “Shadow”:

Em ambas performances, Britney demonstra uma insegurança e instabilidade – vocal e emocional. Sua voz está tremula e seu fôlego bastante comprometido pelo uso excessivo do playback e falta de preparo.

Depois disso, Spears quase nunca mais se arriscou nas apresentações totalmente ao vivo. Sempre utiliza o recurso do playback ou bases altíssimas que tornam sua voz inaudível.

Conclusão:

Britney Spears tinha o sonho de ser famosa através da música e fez tudo para que isso acontecesse.

Entregou seus potentes e maduros vocais à gravadora que a fez cantar numa voz desconfortável e infantil, pois era mais comercial e vendável. Isto fez com que perdesse grande parte de sua emissão, “machucasse” suas cordas vocais e deixasse, aos poucos, a maturidade perder-se em meio a tantos agudos mal colocados.

Além de tudo, o playback, sempre presente em suas performances, comprometeu o desenvolvimento de Britney através dos anos. Ela não tinha que se preocupar com o canto, que ficou lateralizado por toda sua carreira, impedindo-a de desenvolvê-lo.

Ou seja: a sede pelo dinheiro levou a voz de Britney e, hoje, ela não se arrisca a mostrá-la. Isto é triste para uma pessoa que sonhava em ser como Whitney Houston.