Sobre o amor e o tempo
Somos limitados e criamos uma necessidade de tudo limitar. Limitamos o tempo. Tudo é tempo. Tempo é tudo. Vidas que poderiam ser escritas por ponteiros de relógios. Quanto tempo no trabalho? Quanto tempo no trânsito? Quanto tempo no celular? Quanto tempo na raiva? Quanto tempo na tristeza? Quanto tempo com a saudade? Quanto tempo de amor? Quanto tempo…
Em nossa frenética busca pela limitação do tudo chamado tempo, limitamos também o sentimento. Na dor, precisamos ser fortes. Na tristeza, esperançosos. Na saudade, rápidos. Afinal, pra sofrer é preciso tempo e não há tempo pra sofrer. Não há tempo pra perder com sofrimento. Então, vamos ser felizes.
Mas como ser feliz? Amar mais, amar melhor, amar bem sem olhar a quem, amar ao próx… ei, mas pera lá. Não se empolgue. Ame, mas ame com um amor são. Um amor racional. Um amor sem grande envolvimento, senão também é perda de tempo. Procure um amor que faça bem pra você, não bem pra “vocês”. A prioridade é você, não ela. Ela que ache a fórmula menos dolorosa de se amar, a fórmula que gaste menos tempo, que exija menos esforço. Pense primeiro em você.
Tá aí uma forma de limitar o amor: individualizá-lo. Um amor egoísta. Um amor narcisista. Um amor que pensa no singular não pode ser chamado de amor. Amor é plural. Amor é troca, seja amor paternal, familiar, amor de amizade, amor de caridade, amor sexual, amor passional.
Amar é pensar mais no outro. Amar é ilimitado. Amar é atemporal. Amar é natural, irracional, sentimental. Sem motivo ou explicação. Surpreenda: ame com uma lógica menos lógica do que a lógica dos ponteiros dos relógios!