Setembro Amarelo e o que você tem a ver com isso

Falar de suicídio é um tabu gigante.

Sexo, pênis, vagina, masturbação… não nego que pode ser difícil encontrar alguém que não arregale os olhos ao ouvir as palavras, mas experimente falar “ele pulou da janela da sala, porque não aguentava mais”. Ah… aí o buraco fica ainda mais embaixo.

É difícil encontrar pessoas que estejam preparadas pra ouvir sobre depressão, síndrome do pânico, transtorno de personalidade limítrofe ou alguma das tantas doenças que exigem tratamento psiquiátrico. Não é preciso ir muito longe: a OMS calcula que mais de 120 milhões de pessoas sofrem de depressão – e nem começamos a falar das outras.

E a depressão é quieta. Ela vem aos poucos. Ela grita em silêncio. E, às vezes, ela grita no ouvido do nosso colega que sempre vai embora mais cedo da mesa do bar. Daquela amiga hilária que faz piada com tudo o que se mexe e nunca para de rir de como “a vida tá uma merda”. Rir de tudo também é desespero. 

Precisamos ser empáticos. Precisamos olhar pro outro e lembrar que a história de vida que ele carrega nos ombros influencia diretamente nas decisões que toma. No que o afeta. No que o faz sofrer.

Nós contribuímos uns com os outros no abraço, no olhar, no “ah, vem cá!” acompanhado do abraço que o outro precisa. Às vezes, o abraço cura. Às vezes, é tudo o que se precisa.

Às vezes, não é nada.

Precisamos ser empáticos aqui também: não é você que não é suficiente, é ele que precisa de outro tipo de ajuda. E aí é a hora de perceber até onde você pode ir e até onde a ajuda precisa vir de especialistas. Leve seu colega, amigo ou familiar ao psiquiatra. Lembre-o que não é errado estar doente. Ninguém pede desculpa ou se envergonha por ter asma. Não tem problema precisar de ajuda psiquiátrica. Pneumologistas tratam o que me dá falta de ar, psiquiatras tratam o que dá falta de vontade. Faz parte. É preciso lembrá-los disso: faz parte.

Precisamos olhar uns para os outros e enxergar com vontade. Na correria do cotidiano, esquecemos de olhar.

Precisamos olhar.

O Setembro Amarelo é um apelo: olhe. Veja. Enxergue. Vá além e permita-se ser disponível. Esteja presente. Abrace. Faça a diferença. Vá. Diga sim. Diga “eu entendo”. Diga “eu não te entendo, mas continuo aqui”. Ouça. Sobretudo, ouça. Deixe que digam, que chorem, que esperneiem.

Não seja a mão que aponta, seja o abraço que acolhe, o colo que aconchega. Seja a contramão do individualismo que tanto machuca.

O último dia 10 foi o dia mundial de combate ao suicídio. Que não seja apenas um. Que sejam 365.

A poesia da contradição escrevendo uma coletânea vitalícia de histórias que vivi e inventei.
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