Leitura da semana: Eduardo Galeano

“O mundo está feito de histórias. São as histórias que contamos, escutamos, multiplicamos, que permitem converter o passado em presente e o distante em próximo, o que está longe em algo próximo, possível e visível”.

Eduardo Galeano foi um escritor e jornalista uruguaio, falecido no ano de 2015. Sua obra é vasta e complexa – autêntica, sempre beirando os textos histórico, analítico, poético, passando até mesmo pela crônica e pelo relato cotidiano. É não apenas repleta de sentimento, mas também de engajamento político, de memória histórica, de percepções diárias.

Sua obra mais conhecida é, certamente, “As veias abertas da América Latina”. Publicada em 1971, é um texto essencialmente histórico, que discute e questiona a dominação política e a exploração econômica no continente, passando por toda a sua cronologia, desde o período colonial até as ditaduras militares e a contemporaneidade como um todo. Essa obra é um marco importante para a esquerda latino-americana e foi até mesmo proibida em alguns países do continente durante seus períodos ditatoriais, como Argentina, Chile e o próprio Uruguai.

Nas décadas seguintes, Galeano vai se distanciando da escrita histórica e se aproximando do relato poético. Nesse sentido, surgem duas obras essenciais: “O livro dos abraços” e“Os filhos dos dias”. A primeira, lançada em 1989, é maravilhosamente impossível de se enquadrar em um gênero. São pequenos textos sentimentais, cotidianos, marcantes. Alguns, em prosa. Outros, chegam a tocar a poesia. “O livro dos abraços” é um pequeno lembrete para que, no caos incessante, não nos esqueçamos de repousar nossas mentes no alento de um sorriso.

“Os filhos dos dias” é um de seus livros mais recentes, lançado em 2012, e se assemelha aos moldes dos abraços de sua obra anteriormente citada. Baseado na sabedoria maia, é composto por 365 pequenas histórias: uma para cada dia do ano, em diferentes pontos no tempo e espaço. Essa obra é um rio caudaloso, contínuo e inefável. Às vezes, é quase possível tocar os relatos no ar. Somos transportados vividamente para os pequenos detalhes da História – e o globo continua girando.

Em meio a uma letargia social que consome a sociedade, ler Galeano é tarefa mais do que nunca necessária. Não há meios de se sair impune de seus escritos – são golpes certeiros, que abrem nosso peito e arrancam-nos sorrisos; abrem-nos os olhos e enriquecem nossas mentes. Não há como não ler. Não há.