Em uma história cheia de vírgulas, eu escolhi seus braços como ponto final

Por muito tempo, eu escolhi não sentir. Tão simples e frio como quem escolhe uma roupa na pressa da manhã. Renunciava toda felicidade que se dispunha à minha frente por ser escrava dos meus impulsos. Calava os pulsos inquietos do coração e seguia por aí com um discurso decorado sobre desapego, que sempre funcionou muito bem pra afastar qualquer um que oferecesse perigo e abrigo.

Desde o início, a sua possessividade bateu de frente com a minha liberdade demasiada. Mas, em alguma entrelinha, eu, que sempre evitei novos parágrafos por medo do ponto final, fiz vista grossa. Por algum motivo, fingi que não te vi me desfazer o nó para nos tornar laço.

De passo em passo, em cada espaço que você me cedia, mais vontade de me prender no seu abraço eu sentia. Apaguei cada letra do meu argumento falho e te deixei brincar com as palavras. Permiti que você fizesse rimas, enquanto me fizesse rir mais. E mais. Sem mais. Sem mas.

Você quis escrever uma história com todas as minhas vírgulas e eu escolhi seus braços como ponto final. Tão simples e quente como quem abre a janela em uma manhã ensolarada.