Da polpa que jazia na calçada
Ela pisou em uma goiaba.
Espalhadas pelos ladrilhos gastos, à sombra de sua matriz arbórea, maduras, algumas chegando em seu estágio de deterioração. Um balançar dos ventos e a queda livre se torna inevitável; as vitoriosas chegam ao chão inteiras, talvez um pouco amassadas, e esperam pacientemente seu fim. Outras, no entanto, estouram na colisão, e ali jazem, imóveis, enquanto suas polpas rosadas se desprendem da casca e fazem seu caminho pelo chão.
Há ainda um terceiro cenário: a casca intacta que não estoura, que envolve maternalmente o rosado cheio de sementes dentro de si, mas não morre de velhice – é pisoteada, por acidente, por um pé distraído e ansioso e nervoso e apressado
como ela fez.
Ela pisou em uma goiaba. e, assim que sentiu seu pé esmagando o fruto, retirou-o, horrorizada, e um estalo de remorso se acendeu em meio a seus relapsos e emaranhados pensamentos.
Ela pisou em uma goiaba e, subitamente, seus olhos marejaram em desespero. Lembrou-se de algo importante: precisava cortar o cabelo.