Crítica do Crônicas: Magal e os Formigas
Na famosa fábula da cigarra e da formiga, de La Fontaine, a moral da história é que existe o tempo certo pra tudo na vida: há momentos em que é necessário trabalhar e há outros pra se divertir – ou então, o ideal é conseguir fazer os dois ao mesmo tempo.
Magal e os Formigas é uma comédia baseada nessa relação. João (Norival Rizzo) é a formiga, um aposentado viciado em trabalho, loteria e que se recusa aos pequenos e grandes prazeres da vida. Sidney Magal, em forma sobrenatural, pois só aparece para João, é um tipo de voz da consciência que surge na rotina do aposentado no momento em que tudo está dando errado pra ele e pra sua família. O objetivo do cantor é ensinar ao azarado que, apesar das dificuldades, a vida pode ser encarada sob uma ótica positiva e festiva, ou seja, a ótica da cigarra.
Tendo o subúrbio paulistano como pano de fundo, a fotografia do longa é correta e permite ao espectador – que conhece São Paulo, especialmente – uma conexão com os cenários principais, como a casa da família e a oficina mecânica, típica de bairros antigos da capital. Isso faz com que, mesmo com a fábula e a ficção, o público consiga criar uma identidade com a realidade cotidiana, que tem problemas, sonhos e oferece diferentes formas pra se encarar uma mesma situação.
A ideia de Magal e os Formigas, segundo a própria sinopse oficial, é ser uma “comédia otimista”. A mensagem, de fato, é positiva; as atuações, tanto dos protagonistas (Norival Rizzo e Sidney Magal) quanto dos muito bem escolhidos coadjuvantes, entre eles Mel Lisboa, Zécarlos Machado, Imara Reis e Nicolas Trevijano, é de se tirar o chapéu. Elenco afinado!
Mas o filme tem seus problemas. A ausência de piadas interessantes e engraçadas no texto é o principal. A graça aparece mais pela boa interpretação combinada com a trilha sonora, do que propriamente pelo humor das piadas, normalmente datadas.
Alguns cortes poderiam ser feitos de forma diferente também. Em uma cena, por exemplo, o cantor coloca na vitrola o disco com a dançante “Me chama que eu vou”, a fim de ensinar alguns passos pra João; o que tinha tudo pra ser um momento divertido e de exaltação ao grande sucesso dos anos 90, com Magal e o aposentado rebolando pela casa, foi rapidamente interrompido pela entrada da esposa em cena, para que o casal dançasse um… instrumental. O baile com a mulher teve uma função importante na história, é verdade, mas não precisava ter barrado tão repentinamente outro momento interessante.
Fora isso, o longa consegue exaltar os clássicos Sandra Rosa Madalena e Meu Sangue Ferve Por Você. Além do surgimento de duas músicas inéditas: logo no início, um bolero mega dramático; e no fim, já nos créditos, a mesma ideia da letra é revertida pra uma canção num ritmo carnavalesco. É a transformação da tristeza em alegria, ideia do diretor Newton Cannito, que estreia nesta função, depois de ser roteirista em produções comoReza a Lenda (2015), 9mm São Paulo e Cidade dos Homens.
Magal e os Formigas está em cartaz em algumas salas de cinema pelo Brasil. Regular e simples, o filme pode cativar pela reflexão, trilha sonora, boas atuações – com destaque para Norival Rizzo – ou pela simples presença de Sidney Magal sendo Sidney Magal.
https://youtube.com/watch?v=pTH5eCywsyQ
SINOPSE: João é um aposentado viciado em trabalho e loteria. Formou-se na ética operária que condena o prazer. Hipocondríaco, vive com pequena aposentadoria e está sempre preocupado com o futuro dos filhos: Sergio, um workaholic endividado, e Sandra, que perdeu o noivo. Sua esposa, Mary, sonha com uma reforma na casa e seu único passatempo é visitar o amigo Alberico em sua oficina mecânica. Após uma espécie de delírio, João começa a receber visitas sobrenaturais do músico Sidney Magal, que, com todo seu carisma e humor, prova para João que desfrutar o presente é a solução dos seus problemas. A partir daí, João, unindo o trabalho do filho com as aptidões musicais de seus amigos mecânicos, soluciona o problema financeiro e emocional de sua família.