Crítica | Beleza Oculta e a importância do Amor, do Tempo e da Morte
Quando Beleza Oculta estreou nos Estados Unidos, em meados de dezembro passado, recebeu as piores críticas possíveis da imprensa norte-americana. Enquanto alguns não gostaram das atuações do elenco estrelado, outros massacraram o roteiro e uma outra parte fez questão de pisar no “sentimentalismo manipulador” – como adjetivou o The Guardian. A propaganda reversa deu tanto resultado lá que o longa foi a pior estreia da carreira de Will Smith nos EUA, tendo arrecadado apenas 7 milhões de dólares.
Não dá pra saber se os resultados aqui no Brasil, onde a produção estreia nesta semana, serão tão ruins quanto foram lá, mas uma coisa que pode se dizer é que Beleza Oculta não é esse horror todo que pintaram. Pelo contrário. O filme é uma aula sobre a importância da construção de relacionamentos ao longo da vida. Criamos laços, temos sonhos, fazemos projetos, construímos carreira, constituímos família e estamos sempre acreditando que tudo depende da gente. Não é bem assim.
No longa, o publicitário Howard (Will Smith), um homem bem-humorado, inteligente e dono de sua empresa, sofre uma grande perda e entra numa profunda depressão. Se antes desse acontecimento, ele acreditava que o Amor, o Tempo e a Morte eram vetores que davam significado a vida, agora Howard acredita que esses três elementos do Universo são cruéis e dispensáveis. Tomado pela raiva e pela decepção, o publicitário passa a escrever cartas pra cada uma dessas forças.
O que parece impossível se torna realidade quando o “universo” decide responder. A Morte (Helen Mirren), o Tempo (Jacob Latimore) e o Amor (Keira Knightley) entram em contato com o protagonista na tentativa de esclarecer as suas dúvidas e responder às suas cartas.
Eu imagino que lendo assim pode até parecer que existe uma grande forçação de barra no roteiro e que o trio vai surgir em forma de espírito pra atormentar Will Smith. Não é isso o que acontece e eu também não vou dar o spoiler. Mas a forma que os elementos aparecem pra ele tem a ver com a ação de seus amigos da empresa: os personagens de Kate Winslet, Michael Peña e Edward Norton, que estão preocupados com a situação financeira da agência de publicidade e também com a depressão do colega.
Beleza Oculta se passa em Nova York, na época de Natal, o que ajuda um pouco mais a transmitir a ideia de necessidade de relacionamento, união e família. Ao contrário do que disseram os críticos gringos, o filme não é apoiado num excesso de sentimentalismo manipulador. Existem vários alívios cômicos no decorrer da história e uma importante reflexão de como encarar perdas inesperadas ao longo da vida. A produção também expõe um dos grandes problemas do nosso século: a depressão.
É verdade que não é o melhor trabalho de nenhum dos atores estrelados do elenco, mas as atuações não devem ser menosprezadas. Eles conseguem ser simples e cativantes. O mesmo pode se dizer de David Frankel (Marley & Eu, O Diabo Veste Prada), que dirige o longa baseado no roteiro de Allan Loeb (Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme eQuebrando a Banca). A narrativa não é tão convencional, porém agrada e evita que o filme fique cansativo.
Tirando uma coisa meio óbvia aqui ou um exagero ali, Beleza Oculta traz boas surpresas ao longo de seus quase 100 minutos de duração e merece ser assistido! O filme estreia nos cinemas brasileiros dia 26 de janeiro.