Crimes pela janela: uma resenha do best-seller A Garota no Trem

Crimes pela janela: uma resenha do best-seller A Garota no Trem

Um thriller psicológico é tudo que alguém precisa num dia nublado, meio chuvoso e tristonho. Combine a leitura com um bom café ou chocolate quente e fica perfeito pra ler A Garota no Trem. Paula Hawkins sabe perfeitamente como conduzir o leitor numa velocidade frenética, com curiosidade à flor da pele, para um desfecho só conhecido nas páginas amareladas do final, quando o crime (sim, há um crime) é desvendado. Até lá, noites em claro lhe aguardam!

 

QUEM É PAULA HAWKINS?

Uma autora que decidiu, em 2008, trocar a carreira de jornalista para se aventurar na nova vida de escritora. Escreveu alguns livros com o pseudônimo de Amy Silver, mas não obteve sucesso. Sua escrita é sombria, por isso não podia se dar ao luxo de falar sobre castelos e mocinhas.

Quando ela se revela, a reviravolta em sua trajetória surte efeito. A moradora de Londres se vê em meio ao estrelato. A Garota no Trem vende cerca de quatro milhões de exemplares e é traduzido para 44 línguas ao redor do mundo.


RESENHA

Todos os dias, durante os chuviscos da pacata cidade de Ashbury, Rachel pega o trem das 8h04 da manhã e parte rumo ao seu trabalho. A locomotiva enfrenta o sinal vermelho sempre próximo a uma casa onde ela fantasia e observa, dia após dia, os moradores. Sua fantasia é tão profunda, que até nomes (Jess e Jason) ela dá ao casal que vê diariamente.

Rachel já morou ali. Na mesma rua. Mas agora a casa em estilo vitoriano, que um dia foi seu lar, pertence ao ex-marido Tom, à sua nova mulher e à sua filha.

Rachel é solitária e ainda está com o coração partido. Não esquece o passado e enfrenta seus problemas bebendo gim tônico e vinhos baratos. Ela não consegue seguir em frente e é a típica granada prestes a explodir; a pessoa que dá vexame no trabalho e persegue o ex-companheiro.

“De vazio, eu entendo. Começo a achar que não há nada a se fazer para preenchê-lo. Foi o que percebi com as sessões de terapia: os buracos na sua vida são permanentes. É preciso crescer ao redor deles, como raízes de árvore ao redor do concreto; você se molda a partir das lacunas.” (Pg.114)

Tom, por sua vez, é focado e sério. Reestabeleceu sua vida ao lado de Anna e sua filha Evie.

 

AS VIAGENS DE FUGA  

Em uma de suas viagens de trem, Rachel presencia uma cena estranha no lar daquelas pessoas que examina sempre que o trem para abruptamente. Quando lê os jornais, se depara com a notícia de que Jess, que na verdade é Megan, está desaparecida.

“Há um montinho de roupas do outro lado do trilho do trem. Um tecido azul-claro – uma camisa, talvez – embolado com algo de um branco encardido. Deve ser parte do conteúdo de um saco de lixo jogado em meio às árvores esparsas nessa encosta à margem da linha do trem”. (Pg.11)

Convencida de que pode ajudar no desfecho do caso, Rachel procura a polícia, mas quem acreditaria em uma mulher que é vista bêbada constantemente e tem traços da memória perdida após os porres?

“Estou exausta, a cabeça pesada de tanto sono. Toda vez que bebo, dificilmente durmo bem. Apago na cama por uma ou duas horas, então acordo, com medo de tudo e com nojo de mim”. (Pg.41)

A Garota no Trem deixa os leitores divididos entre a raiva e a pena por Rachel e todos os outros personagens. Mas podemos encontrar pessoas assim durante nossa vida, o que torna o livro ainda mais verossímil e fácil de ler, pela empatia.

A autora conduz a história de maneira ágil, leve e bastante misteriosa em grande parte, o que deixou os leitores instigados e ajudou no sucesso de vendas.

“Ontem à noite, sonhei que estava na floresta, caminhando sozinha. Começava a amanhecer ou anoitecer, não sei bem, mas havia mais alguém ali comigo.” (Pg.203)

Os capítulos são alternados entre Rachel, Anna e Megan, nos fazendo enxergar traços da vida de cada uma: seus medos, preocupações e sonhos.

As três personagens são muito diferentes e, ao mesmo tempo, muito iguais; a autora faz questão de explorar isso e nos mostrar um lado não tão bom e profundo de cada uma delas, o que consequentemente, nos faz julgar nossos próprios pensamentos.

“Todo mundo me disse que era loucura eu aceitar me mudar para a casa de Tom. Mas todo mundo também achou loucura eu me envolver com um homem casado, ainda por cima casado com uma esposa extremamente instável, e nisso provei que estavam errados”. (Anna, pg.132)

Muitas mulheres perdem o controle ao término de um relacionamento, e talvez possam ver em Rachel um exemplo do que não fazer e não seguir; podem tirar uma lição e não perder o controle para seguir a diante. É difícil, mas nunca impossível.

Os desafios da vida amorosa e o que está em jogo além dele são mostrados claramente por Paula Hawkins, fazendo com que o leitor possa analisar suas escolhas e seu modo de enxergar quem está ao redor. O sucesso do livro fica claro a cada página virada, a cada lágrima escorrida e torcida por uma ou outra personagem. É tocante e emociona, faz com que você se questione sobre certas decisões da protagonista, o que faria no lugar dela ou o que faria se sua vida fosse como a dela.

Viciante e aterrorizante, a obra é leitura obrigatória para os que apreciam um enredo que provoca o leitor. Fiquem atentos, os lapsos na memória de Rachel podem contaminar você também…

Crimes pela janela: uma resenha do best-seller A Garota no Trem

A GAROTA NO TREM

FILME

O best-seller A Garota no Trem virou filme de mesmo, que foi lançado nos cinemas em 2016. O elenco conta com Emily Blunt, Rebecca Ferguson, Haley Bennett, Justin Theroux, Luke Evans, Allison Janney, Edgar Ramirez, Lisa Kudrow e Laura Prepon.

 

“A garota do trem consegue fazer o mais difícil em um thriller: juntar peça por peça do que achamos que sabemos, até revelar aquele único detalhe que não conseguimos antecipar” 
(Entertainment Weekly)

 

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