Quando você vicia num artista tão bom quanto café

Quando você vicia num artista tão bom quanto café

O vídeo de Rodrigo Alarcon começa com um fôlego. Logo em seguida, o toque do violão, tão característico, já me faz cantarolar: “volta correndo que eu tô te esperando, eu te pinto um quadro e tu me ensina um tango, mas vem depressa que eu passei café…”

Aliás, café: tá aí uma bebida que permeia as músicas que Rodrigo Alarcon, o compositor desse som maravilhoso, escreve e interpreta. E esse cara é desses que a gente dá um 360º dentro da própria cabeça quando ouve, porque são jogos de palavras inteligentes tão absortos num ritmo leve que a gente percebe que se deixou levar pela canção só quando tem o estalo de “foi isso mesmo que ele falou?”.

E isso acontece o tempo todo. Vejam só, tem uma música (que também tá lá no canal do YouTube dele) que se chama “Apesar de querer”. Que atire a primeira pedra quem nunca quis quem não devia. Que atire a segunda quem nunca disse que não faria. Que atire a terceira quem fez mesmo assim.

Rodrigo para na segunda e canta, num sambinha delicioso de se ouvir, que “isso eu não vou fazer apesar de querer… e como eu quero”.

Em uma de suas músicas, ele coloca na mesa uma dor: a cabeça não para de latejar. É saudade ou sinusite? Em outra, toca a campainha do 15B e quase morre feliz ao ver você – seja “você” quem for. Pergunta “cadequê”, implora força a um frágil coração e escreve cartas pra nunca entregar.

Esse é um cantor daqueles que você nunca vai ouvir uma vez só, vai se perguntar por onde andou que não havia conhecido até então e vai gastar todo o seu 3G ouvindo as músicas no YouTube.

Rodrigo Alarcon está gravando seu EP por financiamento coletivo no Partio e dá pra ajudar com délão, até. Faz sentido pra você ajudar um artista a fazer seu som ser ouvido por mais pessoas? Pra mim, faz! Ainda mais se for alguém que me fez aumentar a franquia de internet pra poder cantarolar, enquanto ando por São Paulo, que “eu não sei se isso é só sinusite ou se são meus olhos reclamando não te ver, eles parecem que vão pular, sair da órbita e ir atrás de você… ô, morena, eu queria te ver pra ver se passa, pra ver se é isso ou se tomo uma aspirina”. À quem interessar possa, eu entrei na próxima farmácia.

E passou.

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+ CARTA ABERTA PRA QUEM QUER SABER SE DÁ PRA SER AMIGO DE EX

A poesia da contradição escrevendo uma coletânea vitalícia de histórias que vivi e inventei.