Emocionante e divertido, EXTRAORDINÁRIO é tão bom quanto um abraço; entenda
Para compreender Extraordinário, história criada por R. J. Palacio, é preciso pensar em dois pilares humanos que fizeram (e continuam a fazer) a sociedade mudar constantemente. O primeiro está diretamente ligado à essência dos seres vivos, fazendo com que eles sempre estejam à procura de companhias – sejam essas para impedir a extinção da espécie, expandir e conquistar terras ou até mesmo para evitar a solidão. O segundo, contudo, é a busca pelo “belo”, ou seja, o ápice de individualidade e subjetividade do ser.
Conclui-se, portanto, que os pilares de discussão que tecem a trama do livro Extraordinário são pontos de divergência. Desta forma, a obra literária recém adaptada para as telonas vem como um momento de reflexão individual (e, paradoxalmente, coletiva) do espectador.
O enredo do filme está centrado na vida de August Pullman (interpretado pelo prodígio Jacob Tremblay), um garoto portador da síndrome de Treacher Collins – doença genética caracterizada por deformações na face. Por conta dos inúmeros procedimentos cirúrgicos, Auggie acaba estudando em casa por muito tempo até que, incentivado por seus pais (Julia Roberts e Owen Wilson), ele decide entrar para o colégio. Agora o garoto Pullman terá que enfrentar não só os desafios de ser novo na escola, mas também, o preconceito e a exclusão por ser diferente.
Extraordinário é um trabalho (literário e cinematográfico) feito para que o público reflita. Os 113 minutos de duração passam voando graças a leveza com a qual o diretor e roteirista Stephen Chbosky (As vantagens de ser invisível, 2012) monta a obra. Por meio de sequências emocionantes e divertidas, o filme abraça o espectador fazendo com que ele se torne parte do desenvolvimento das personagens, que representam o próprio público e suas particularidades.
O processo de identificação e sensibilização é algo fundamental para que a película cumpra seu papel. Auggie serve de farol para todos e é sob sua ótica pura e diferenciada que, durante a sessão, é possível vivenciar lições sobre gentileza, escolhas, coragem, aceitação, perdão e recomeços.
A HUMANIZAÇÃO DOS PERSONAGENS EM EXTRAORDINÁRIO
A evolução das personagens causada pelo “efeito Auggie Pullman” retoma a ideia dos pilares da humanidade por meio da reconfiguração deles. Ter uma pessoa como August, que foge dos padrões estéticos, faz com que se reflita sobre o que se conceitua como belo; cria uma discussão acerca do interior e exterior das pessoas; dá margem para atitudes de auto avaliação; além de expressar uma oportunidade de mudança de postura. Os focos em Via, irmã de Auggie (Izabela Vidovic), Jack Will, colega de sala de August (Noah Jupe), e Miranda, a melhor amiga de Via (Danielle Rose Russell), são expressões do quanto e como uma vida pode afetar outras – positiva ou negativamente.
A outra lógica do longa se estabelece no embate entre fechar-se para o mundo por medo de se machucar e dar oportunidades para conhecer o outro, sem julgamentos ou preceitos. Há uma relutância da personagem vivida por Jacob Tremblay em aceitar que existam pessoas que não ligam para sua aparência e tem o objetivo de aproximar-se dele por suas qualidades. Nesse contexto, o tema abordado é o isolamento protetório que Pullman cria, uma espécie de escudo social forjado desde o início de sua vida. Essa carapaça protetora vai ser, durante o longa, desconectada dele à medida que sua coragem se renova e o faz perceber o quão querido ele é.
Por meio de uma adaptação fiel e muito cuidadosa, o drama que acaba de estrear nos cinemas vai mexer com muitos corações e mentes. Um trabalho competente e preciso que é capaz de humanizar o espectador. Uma obra que, como acreditava Auggie, merece ser aplaudida de pé por ter vencido o mundo, em especial por fazê-lo da melhor maneira possível, com direito a maestria e perfeição. E com um título autoexplicativo, nada mais precisa ser dito sobre o filme, exceto que você deve estar preparado para viver uma experiência extraordinária.