Sobre arrumar a casa e a vida
Outro dia achei aquele shortinho jeans que você dizia que, quando estivéssemos velhos, seria a melhor lembrança da nossa juventude. Você falava do futuro com tanta certeza que até eu, que nunca fiz planos, acreditava. Como se a saudade não estivesse do lado de fora da porta só te esperando sair pra ocupar o seu lugar.
Você foi ficando e eu me perguntava se era porque estava chovendo. Ou estava chovendo porque você ficava? Até hoje não sei. E eu tentava. Tentei uma, duas, três. Tentei o plano A, o B e, bem… Cê sabe até onde o alfabeto vai.
A saudade usava o mesmo perfume que você e me fazia companhia pelos corredores daqui de casa, enquanto o porteiro não anunciava a chegada de um outro sorriso. Demorei pra perceber que ele subiu sem avisar. Foi aí que me chacoalhou e gritou, mesmo sem som: Chega. “Porque ocupar o coração com alguém que não serve mais é como guardar roupa velha na gaveta. É perda de espaço, tempo, paciência e sentimento.”
Pela primeira vez, eu tive dó de você por estar sem mim. E finalmente percebi que tem pessoas que dão pena. Outras, asas.