Quando o NÃO é solenemente ignorado: é mudo. É nulo.

Todos os anos, cerca de 50 mil pessoas são estupradas no Brasil. Desse número, a grande maioria é, inegavelmente, de mulheres (dentre as quais, 70% das vezes, são crianças ou adolescentes até 17 anos). Mais um dado: apenas 8% de todas as denúncias de estupro no território nacional são dadas como falsas. Mais um: de acordo com dados internacionais, 99% dos acusados saem impunes. O estupro é naturalizado, silenciado e enraizado na cultura nacional. E está na hora de se falar sobre ele.

Na última semana, mais um caso chocou o Brasil: a vítima, menor de idade, é estuprada por mais de trinta homens, na periferia do Rio de Janeiro. O crime? Orquestrado por um ficante. Todos os dias, mulheres são abusadas por seus maridos, namorados. São assediadas por desconhecidos em festas. No ponto de ônibus. No táxi. Na saída da escola, da faculdade, do trabalho. São abusadas e culpabilizadas. Tornam-se criminosas as roupas curtas, o uso de álcool, a maquiagem.

O “não” é solenemente ignorado: é mudo. É nulo.

A cultura do estupro é mantida ao longo do tempo e reforçada socialmente. Isso é apenas o núcleo de uma estrutura complexa e milenar: o machismo. E ao contrário do que pregam muitos homens, não basta não estuprar uma mulher para se isentar de culpa. O culpado também é aquele que é conivente com o amigo abusador, aquele que não dá credibilidade à colega de trabalho. É aquele que bate palmas para a objetificação da mulher, aquele que acha legal pegar as mais bêbadas na balada. É aquele que abusa psicologicamente da esposa, da namorada. Aquele que desqualifica as conquistas e a intelectualidade de uma mulher. Aquele que força o “sim”. Aquele que não diz “não”.

Trinta não disseram “não”.

E mais trinta não dirão.

Mas há – e haverá – luta.

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