Peter Hook, ex-New Order, fala sobre a carreira, novos projetos e reclama de streaming; veja a entrevista
Você que viveu os anos 80 sabe quem é Peter Hook. Talvez até quem passou pelos anos 90 e vivenciou a MTV saiba quem é este “coroa” de 60 anos. Se você não tem ideia de quem ele seja, sugerimos procurar estas 3 bandas que marcaram época: Joy Division, New Order e Monaco. Lembrou?
Pois é. Hook é praticamente um inovador da música pop. Passou por diversos estilos musicais e agregou a eles a criatividade e acidez tipicamente britânica. O Crônicas do Agora conversou com ele, que se apresenta no Cine Joia em São Paulo, nesta terça-feira (6); os ingressos já estão esgotados. O papo foi pouco antes da viagem à Porto Alegre, onde ele tocou no domingo.
CRÔNICAS DO AGORA: Como é estar de volta ao Brasil e o que espera da recepção dos fãs nesta nova tour?
PETER HOOK: É bom estar de volta, tenho vindo aqui constantemente. Desde 1983, 84. Toquei aqui como DJ muitas vezes também. Temos fãs muito leais e entusiasmados. É muito bom.
CA: O que os fãs podem esperar do show?
PH: O que estamos fazendo, que é uma ideia nossa, é tocar os LPS na ordem cronológica. Então, o que estamos tocando no momento são os “Substances” – New Order e Joy Division.
CA: Você é considerado um inovador e um músico brilhante. Tem ideia da sua importância pro mundo musical?
PH: Não…não. Eu não tenho…Não é algo que…Quero dizer, é muito bacana quando as pessoas te dizem coisas assim, mas no seu dia-a-dia, no trabalho, na vida…Você tem que estar aberto para coisas que a vida te dá. Mas é bacana, muito bacana, ser apreciado pelo seu trabalho, sem dúvida. E é interessante, porque como músico, você sempre se apoia em muitas influências.
Então é bom quando você retorna esse favor para quem te influenciou.
CA: Muitos jovens têm conhecido suas músicas porquê elas estão em videogames, séries, filmes…Como você enxerga essa forma de divulgação?
PH:– Foi meio chocante quando eu ouvi “My First Won”, num filme, o que é muito legal, naturalmente. E é um grande prazer ser utilizado em qualquer meio. Tem canções que você não gosta quando é mais jovem, e então fica mais velho e percebe que é uma parte vital do que você faz. E nossa música atingiu vários, vários jogos…principalmente agora, pela qualidade delas. E tem sido utilizada em muitos filmes, então é maravilhoso. Porque não sei sobre a maioria delas. E quando eu vejo um ótimo filme, e aí a música aparece…(coloca a mão no peito emocionado). É muito legal!
CA: E como o streaming afeta o seu trabalho?
PH: Os serviços de streaming não me afetam tanto quanto a queda de venda de discos. Isso afeta muito, por sinal. O New Order costumava vender por volta de 3 milhões de discos. E aí caiu para algo em torno de 50 mil, então reduziu drasticamente. Por sorte, as pessoas ainda querem te ver tocar ao vivo, então você ganha dinheiro com os shows. Eu sempre gostei mais do que gravar, enfim. Mas streaming é muito mal remunerado. Não acho que você toparia trabalhar do jeito que eu recebo pelo streaming. (dá risada)
É uma forma bem porca de se receber. Mas é um grande serviço para as pessoas.
CA: As pessoas estão perdendo a essência musical?
PH: Não, quero dizer, são os jovens desta época. A internet te dá várias formas de escolha. Eles podem escolher o que quiserem ouvir e como vão ouvir. Então é ótimo para se escolher, mas isso mudou o conceito de LPS.
A coisa é que os músicos escrevem LPS. Então são 45 minutos de música, uma hora de música para ser tocada em conjunto. O que as pessoas fazem nos serviços de streaming é escolher as mais populares…porque eu faço isso. Então…é só a forma que o mundo mudou. É uma mudança mal paga.
CA: Se o Joy Division ou o New Order tivessem sido criados em outra época, será que teriam o mesmo sucesso?
PH: Eu gostaria que ele tivesse sido criado em outra época. Somos parte do século passado. Mas não estou mais no New Order não é? Por causa das batalhas judiciais, por causa do nome e afins. Então…
Não, quero dizer, a coisa toda é que fomos sortudos de estar no lugar certo, na hora certa, em 1976. E na época era chamado post-punk. E aí a música eletrônica começou em 81…e estávamos lá de novo. Estivemos lá também com o acid house, em 87. Estivemos em vários movimentos bacanas pelo tempo. Tivemos muita sorte. Nunca sei se foi sorte ou habilidade ou talento, mas você tem que esperar que continue acontecendo.
CA: Como surgiu a ideia de criar um programa universitário? (Hook tem um projeto com Universidades onde ensina “music business”, algo como “negócios musicais”)
PH: Sempre estive atento aos negócios, da forma como eles ensinam. Eles te ensinam a lidar com isso numa sala de aula. O que não é bem a ideia quando se fala em rock and roll. A Universidade de Preston me procurou, para fazer um bacharelado em artes. E o que eu disse é que acho que as pessoas precisam de experiência prática. Para que quando forem a um trabalho, eles possam olhar para o curso de sala de aula e também falar que trabalharam com Peter Hook e a banda dele, trabalhei num clube em Manchester, tive como mentor um músico – no caso, eu. É apenas uma forma de dar às pessoas uma visão de que você tem mais do que numa sala de aula. E também eles têm uma fantástica experiência prática, onde eles têm que marcar shows, têm que lidar com o público – o que não acontece na sala de aula. Você tem que lidar com bêbados, traficantes, violência….isso significa experiência prática.
As vezes é um bom laboratório, às vezes não é. É entretenimento, onde há álcool envolvido. Pode ser difícil. Mas a coisa toda é que você está aprendendo a lidar com tudo o que cerca um artista. E isso dá mais validade.
CA: Já que falamos de artes…pensa em atuar novamente?
PH: Sim, eu gosto de finais felizes, se eu estiver num filme. Escrevi 3 livros, e todos eles tem finais infelizes. Então o que eu quero buscar, seja escrevendo ou atuando, é por um final feliz.
É bom ter um final feliz na vida. Você tem que sorrir!
CA: “Passarinho” nos contou que você está formatando um projeto com o Kraftwerk….
PH: Ainda está sendo planejado. É com Wolfgang Flür (ex-integrante do Kraftwerk). E eu estava falando com ele ontem (a entrevista foi realizada na sexta-feira, dia 2/12). E acho que vai acontecer no ano novo, quando vou tocar uma música com Wolfgang. Vai ser legal. Dedos cruzados, ele é um grande herói meu. Todos os membros do Kraftwerk foram influência pro Joy Division. E também pro New Order. Então é um grande acontecimento.
CA: Pode revelar mais dessa música?
PH: Não, não posso, porque nem eu ouvi. Fui procurado pelo Wolfgang, para uma parceria. Tocar numa canção que ele tinha em mente. Então estamos tentando fazer um contrato. E parece que vai dar certo, em janeiro. Estou bem feliz com isso.
CA: E se tivesse que escolher outro ídolo para uma parceria?
PH: É uma pergunta difícil, quero dizer, a pessoa que sempre quis tocar era Iggy Pop. Ele é um grande ídolo pra mim…então..sim, seria Iggy Pop.
CA: Que canção definiria a sua carreira?
PH: A maioria das pessoas diria que é Blue Monday (vídeo) que ainda é o single de 12 polegadas mais vendido da história. Mas não é uma dos nossos maiores hits, acho que temos canções melhores. Acho que o que veio depois, “Thieves Like Us”. Mas as pessoas lembram dela. E também foi uma música que tocou bastante nas danceterias. Então as pessoas cresciam, iam aos clubes e a ouviam. E os DJs foram muito leais conosco, tocaram Blue Monday em 92 e ainda tocam hoje. Ela foi eleita, na Inglaterra, a música mais gostosa pra se dançar. E isso foi ano passado!
CA: Como Peter Hook “pessoa” definiria o Peter Hook “músico” e vice-versa?
PH: Gosto de achar que sou um ótimo pai, um bom marido, um grande amigo dos meus cachorros e sou um músico bom também. É um trabalho duro. Trabalhei anos para que isso fosse possível. É legal ter ser chamado de grande baixista. Mas tenho que admitir, quando fui demitido do New Order me preocupei com o que ia acontecer à minha reputação, minha carreira. Por sorte, parece que consegui superar isso. E estou onde tenho que estar.
CA: Quando você olha para seus projetos e bandas, o que sente?
PH: Faz muito tempo já. O Joy Division foi muito intenso, no movimento post punk e inspirado nos Sex Pistols. Duramos por 3 anos até que Ian morreu. Então New Order foi o maior de todos. Começamos em 1980…e nos dividimos aqui, na América do Sul, em 2006. E Monaco foi um projeto que fiz com meu guitarrista do The Light e era bem legal, na verdade. E agora acho que deveria ter ficado com o Monaco ao invés de ter voltado ao New Order, para ser honesto. Mas é a vida, sabe como é. Tenho novos projetos no ano que vem e pode pintar um novo álbum do Monaco, o que é legal pra caramba!