O Regresso, DiCaprio e o Oscar

“O Regresso” recebeu 12 indicações ao maior prêmio do cinema mundial. É o filme mais comentado do momento pela crítica positiva ao trabalho – do ainda sem Oscar – Leonardo DiCaprio e do já premiado diretor Alejandro González Iñárritu. Mas pode-se dizer que não será uma unanimidade para o público brasileiro. A trama tem muitos buracos e soluções complicadas de serem aceitas ao longo da narrativa.

A vida do guia Hugh Glass (DiCaprio) não é nada fácil. Pra começar, a história se passa num ambiente inóspito habitado por índios que querem matar a todos que estão caçando em suas terras. Glass trabalha pra um desses grupos de caçadores e precisa conviver com certo preconceito e inveja de um dos integrantes do bando: Fitzgerald, brilhantemente interpretado por Tom Hardy (indicado a Melhor Ator Coadjuvante). O destino caótico ainda reserva ao protagonista uma batalha com um urso pardo, numa cena de tirar o fôlego. É realmente impressionante.

A partir daí, tudo lhe acontece. Ele precisa superar a dor física e mental depois de sofrer uma traição daquelas. Num estado deplorável, passa a viver no limite da condição humana, em situações que causam dor e angústia mesmo no espectador sentado na confortável poltrona do cinema. Glass precisa de sua vingança.

Aí vem a pergunta: será que finalmente DiCaprio leva o Oscar de melhor ator pra casa? Primeiro é preciso dizer que em “O Regresso” ele pouco fala. Nas duas horas e meia de filme, seu personagem tem raros diálogos. Dessa vez, Leo precisou se expressar – e muito – com o corpo, com o olhar, com a respiração. Foi bem demais mais uma vez, é verdade. É outro trabalho que entra para a sua galeria cheia de excelentes atuações. Mas há quem chegue ao fim do longa com a sensação de que ele foi melhor em “Os Infiltrados” ou “O Lobo de Wall Street”, por exemplo. Apesar que Hugh Glass é diferente de todos.

Por mais “teoria da conspiração” que isso possa parecer, a impressão é que este papel foi escrito para que DiCaprio interpretasse um grande sofrimento, uma labuta sem fim para impressionar, chocar e tocar os membros da Academia. Até pelo clamor internacional, é bem possível que isso aconteça. Mas vencer Matt Damon (Perdido em Marte), Eddie Redmayne (A Garota Dinamarquesa), Bryan Cranston (Trumbo) e Michael Fassbender (Steve Jobs) já não parece tão claro quanto parecia antes de ver O Regresso, que, aliás, deve faturar muitas estatuetas nas categorias técnicas, por ser impecável nesse quesito.

Difícil será Iñárritu repetir a tríplice coroa (Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Ator) alcançada com Birdman no ano passado.

Veja o trailer:

Rogerio Cardoso é jornalista apaixonado por livros, cinema, cerveja, música, discos de vinil e Fórmula 1. Não necessariamente nessa ordem.
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