Janis – Little Girl Blue: o retrato de uma artista gente como a gente devia ser

Nós temos essa mania de idealizar as pessoas que admiramos – se vocês não, sugiro que adquiram, porque é realmente uma delícia ficar imaginando que tipo de ser humano seus escritores, pintores e cantores eram. Quando pensava em Janis Joplin, pensava em força. Na palavra “reckless” em seu mais essencial sentido que traz a completa inibição e liberdade sem escrúpulos. Em janela aberta, porta escancarada e grito. Berro.

Quão errada eu poderia estar a respeito de alguém que ouvi tanto durante tanto tempo?

Bom, o suficiente para passar duas horas de filme completamente boquiaberta.

Em primeiro lugar, se você nunca parou pra escutar Janis Joplin, sugiro que o faça agora. Pra facilitar, aqui está:


A história da mulher, dona dessa voz que arrepia, é contada em Janis – Little Girl Blue(disponível no catálogo Netflix) através de enxertos de vídeos antigos, imagens da cantora no palco, fotos, narrativas de eventos cotidianos que caracterizam essencialmente quem ela foi e entrevistas que costuram tudo isso. A impressão que se tem ao assistir é a que se deve ter ao assistir uma biografia: alguém que a conheceu profundamente está sentado com você à mesa te contando tudo o que sabe.

O ritmo não é o mais dinâmico de todos, mas passando por cima das travadas das narrativas que chegam pertinho de serem exaustivas, mas terminam segundos antes de você ser capaz de apertar o pause, chegamos numa lista infinda de qualidades para a produção. A pesquisa contida aqui é aprimorada. Escolheram pessoas capazes de contar sua história como quem entrava no seu quarto pela manhã e a via na mais pura versão.

Em seu âmago, Janis admirava. O que não enxergava em si, (ou)via nos outros: Aretha Franklin e Billie Holliday eram grandes referências para a cantora que disse “Se eu treinar muito, talvez eu consiga chegar lá, mas não sou tão talentosa assim…”. É. A mulher que disse isso, canta isso aqui:


Janis Joplin, no fim das contas, é um exemplo de superação. Essa mulher forte, indomável e impossível de passar desapercebido guarda, do lado esquerdo do peito pra dentro, o sentimento de ser completamente comum. Apesar disso, foi a grande cantora que marcou todas essas gerações que, até hoje, colam sua foto (linda) na parede, ouvem sua voz (linda) nos fones no último volume e não exageram quando elogiam ao dizer: “eu queria ter nascido essa mulher!”. Ah, se ela soubesse… Oh, Lord, would you give me a time machine?

O filme, tão grandioso quanto a mulher cuja história é contada, merece ser assistido, revisto e admirado, porque a missão de dissecar essa vida era dificílima e foi cumprida com sucesso.

A poesia da contradição escrevendo uma coletânea vitalícia de histórias que vivi e inventei.
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