Ernest Hemingway, memorial de alma e aspereza

“A felicidade em pessoas inteligentes é das coisas mais raras que conheço”. Nas imagens a que se tem acesso, o semblante é sempre sério, taciturno: árido. Sim, esta é a melhor palavra. Ernest Hemingway é árido, árido e abundante, de uma forma incrivelmente poética e envolvente.

Nascido em 21 de julho de 1899 no estado americano de Illinois, o vencedor do Nobel e do Pulitzer serve muito jovem na Primeira Guerra Mundial, dirigindo uma ambulância pelo exército Italiano. Ao fim de seus serviços, envolve-se com o jornalismo, deixando os Estados Unidos definitivamente e mudando-se para Paris.

Essas duas experiências marcam profundamente a sua escrita, que é essencialmente empírica e, por vezes, autobiográfica. Além de se manifestarem no plano temático, são indissociáveis de sua estilística: pontualmente literária, mas objetiva, áspera. Áspera. Talvez Hemingway sempre tenha o sido, mas a guerra lhe trouxe aspereza. E, com sua genialidade por vezes incompreensível, fê-la se manifestar em seus escritos de maneira infalível.

Suas obras mais reconhecidas destoam em inúmeros pontos, mas são todas claramente parte de um todo unicamente seu. “Paris é uma festa”, por um lado, reúne suas memórias e vivências na fervilhante Paris dos boêmios artistas na década de 20; “Adeus às armas”, por outro, parte de experiências anteriores: sua vivência na Grande Guerra.

Ao longo de sua vida, nunca deixa de buscar pela aventura e pelo desconhecido. Coleciona prosas, memórias, mas também injúrias. “O velho e o mar”, obra mais reconhecida do autor, reflete de forma certeira essa situação: seu tom poético-melancólico anuncia o recolhimento de uma vida de fardos carregados, traumas, experiências e a contemplação plácida diante desses.

O acúmulo desses ferimentos – figurados e físicos – se torna, em um certo ponto, insustentável: o escritor americano se suicida na manhã de 2 de julho de 1961.

Seu legado, no entanto, permanece. Hemingway marcou não apenas o século XX e não apenas a literatura: seus rastros estão numa cultura que continua sendo difundida. Ele infinitamente existe, afinal.

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