Depois a Louca Sou Eu: um livro da Tati Bernardi (e a história de todos nós)

“Aeroporto é um lugar péssimo porque soma as cinco coisas mais terríveis do mundo: despedida, fila, ser humano, placa indicativa e esperança”.

 

Se eu ler em mais um portal que a ansiedade e a depressão são as doenças do século, vou pirar. Mas cedendo aos clichês (e aceitando que pirada já sou), vou ter que repetir: a ansiedade e a depressão são as doenças do século. A gente sabe disso, porque não tem ninguém que dorme bem, come bem, vive bem e trabalha bem com menos de 50 anos andando pela cidade de São Paulo. E subi a idade pros 50, porque quem chegou na casa dos 40 tá sofrendo de uma adultescência pesadíssima e resolveu voltar pras baladas nos últimos anos – se isso não for piração, o que mais pode ser? Além de super divertido, é claro.

Tem gente (eu) que anda por aí todo dia imaginando se o cara que senta do lado tá tomando algum antidepressivo ou se simplesmente acredita que a ansiedade é falta de autocontrole e sucumbe ao cigarro, aos transtornos alimentares ou ao álcool pra resolvê-la. Tem gente (eu de novo) que também caminha na corda bamba das inconclusões a respeito da própria saúde mental. Tem gente (euzinha, mas acho que você também) que tem crise de ansiedade e pânico, mas bota música alta e desenvolve um método novo de tranquilização por semana pra não precisar sucumbir aos remédios.

E a Tati fala da gente. Ela fala da gente como quem abraça e fala: olha, eu te entendo, eu também tô meio louca e também não sei o que quero, nem o que não quero, apesar de ter certeza de que não quero isso aqui, talvez até queira, mas agora não.

No “Depois a Louca Sou Eu”, é na mão da autora que nós, ansiosos, depressivos, portadores de síndrome do pânico ou de personalidade limítrofe (a famigerada Borderline™), colocamos nosso peito e é pra ela que falamos: me sinto compreendida.

Compreendida no medo de sentir medo.

No medo de não sentir coisas.

No medo de sentir ânsia e não conseguir explicar.

Compreendida no medo de não ser compreendida.

É a forma simples e realista de lidar com a vida que parece sumir pelos dedos, mas depois volta a aparecer. Ainda bem. E o legal é que faz a gente pensar que tem gente por aí fazendo cada asneira. Lendo livro sem se deixar afundar no oceano de cada um dos enredos. Assistindo filmes olhando o celular, sem submergir na complexidade do outro que não existe longe da nossa complexidade. Gente pegando da gente coisa que a gente nunca deixou: sentimentos, pertences, momentos, tempo. Tem gente roubando nosso tempo pra não levar a gente pra lugar nenhum. Tem gente que não olha no olho pra falar com gente. Depois a louca sou eu.

Tati Bernardi, autora de “Depois a Louca Sou Eu” – foto: DIVULGAÇÃO

DEPOIS A LOUCA SOU EU – TATI BERNARDI 

DESCRIÇÃO: Em Depois a louca sou eu, Tati Bernardi escreve sobre a ansiedade com um estilo escrachado, ágil, inteligente e confessional. As crises de pânico, a mania de organização, os remédios tarja-preta e os efeitos da ansiedade em sua vida aparecem sob o filtro de uma cabeça fervilhante de pensamentos, mãos trêmulas, falta de ar e, sobretudo, humor. Tati consegue falar de um tema complicado, provocar gargalhadas e ainda manter o pacto de seriedade com o leitor. A capacidade de rir de si mesma confere a tudo isso distância, graça e humanidade.
Depois a louca sou eu é a entrada em cena de uma escritora que ombreia com os melhores da nova literatura brasileira.


Editora: Companhia das Letras
Edição: 1
Ano: 2015
Especificações: Brochura / 144 páginas
Preço médio: R$ 27,90

A poesia da contradição escrevendo uma coletânea vitalícia de histórias que vivi e inventei.
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