A geração deboísta

Tem uma fanpage no Facebook que chama “qualquer coisa pra mim tá ótimo”. Apesar de estar super desatualizada, as tirinhas são hilárias e recomendo que você siga. De qualquer forma, o nome é o que mais me chama atenção: representa exatamente o que a nossa geração tá se tornando. 

Não vou escolher um lado: nem apoiar quem diz que nossa geração trabalha muito por muito pouco, nem quem diz que nossa geração não faz nada e nunca sai da casa dos pais. A questão toda é que, independente de sermos workaholics ou vagabundos profissionais, caímos sempre na indiferença. No tanto faz. No “qualquer coisa serve”. Porque aí não tem que discutir, não tem que pensar a respeito.

Apesar de termos avalanche de textão no Facebook a cada nova manchete que sai nos grandes portais, precisamos lembrar a velha história de que a gente só vê quem faz barulho.

Uma pessoa que faz textão é compartilhada por trocentas mil outras. E aí a impressão que se tem é que todo mundo tá falando um monte quando, na verdade, só uma pessoa falou. O restante só replicou. Quem replica ainda se dá ao trabalho de escolher um lado: a maioria continua compartilhando e conversando sobre seus games, empregos, seriados e interesses pessoais. Os isentões tomam conta da coisa toda. E essa é a maior significação da geração que adotou para si a lei do “se você não é de boas, não desdeboe os deboístas”.

Mas o que acontece quando tanto faz?  

Quando tanto faz você aceita que te digam que essa é a geração que trabalha muito por pouco. Quando tanto faz você ignora se te dizem que você nunca vai sair da casa dos pais. Quando tanto faz você não se importa, porque tanto faz.

E aí você não se dá ao trabalho de rever suas verdades, de posicionar-se num meio, de retirar as mentiras a seu respeito nem de proteger um posicionamento. Quando tanto faz, não tem cara. Não tem jeito. Não tem gosto.

E o ruim disso é que você não tem uma verdade sua, não tem características próprias, não tem identidade, não tem vertente, não tem via, não tem sangue quente. Você é só a soma de tudo o que dizem que você é e isso é absurdamente pouco. Se você é só o que dizem, você é tudo. E o tudo e o nada são uma coisa só. Sabe aquela velha história de que se você sabe que tem toda informação no Google, você simplesmente pára de procurar pela informação ao invés de absorvê-la?

É assim que funciona.

Penso que toda vez que você se sujeita a algo só para evitar briga, está assinando o contrato de que tudo que se quer pode ser feito com você. O seu objetivo é única e somente evitar a fadiga. Ok, Jaiminho. A vida não pode ser assim.

A geração do tanto faz não tem saco pra texto comprido, pra entrevista de emprego que pede mais do que sua determinação, proeficiência e proatividade pré ensaiados; pra gente que discorda, pra amigo que dá mancada. Geração que se isenta, se limita a ser o que se diz. Geração do tanto faz joga fora, porque “não vale a pena sofrer por”.

Mas quem define pelo quê vale a pena sofrer?

Tudo vale a pena sentir.

E sentir nunca tanto faz. Sentir só faz.

A poesia da contradição escrevendo uma coletânea vitalícia de histórias que vivi e inventei.
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