Documentário do Balão Mágico reabre glórias e feridas do passado

Jairzinho, Simony, Tob, Mike formavam o Balão Mágico
Jairzinho, Simony, Tob e Mike formavam o Balão Mágico (Foto: Divulgação)

O documentário A Superfantástica História do Balão Mágico, do Star+, expõe toda a ascensão e glória da turminha infantil dos anos 1980. No entanto, reabre grandes feridas do passado do quarteto formado por Simony, Tob, Mike e Jairzinho.

Ao longo de três episódios, A Superfantástica História do Balão Mágico explica como o grupo pioneiro foi formado, a seleção de cada um dos integrantes, polêmicas envolvendo a produção, o magnetismo das crianças, a chegada da atração na TV e o fim de um império, que abriu as portas para Xuxa Meneghel na Globo.

Apesar de fazer uma ótima linha do tempo para o que foi o quarteto de sucesso e sua contribuição cultural para o período, o documentário não se aprofunda nas histórias e algumas perguntas ficam sem resposta.

Ainda assim, a nostalgia vence o cabo de guerra ao expor símbolos da década como o boneco Fofão, trechos de Simony, Tob, Mike e Jairzinho cantando e dançando, e depoimentos honestos de ex-crianças que amavam o grupinho. Entre eles, os atores Lázaro Ramos, Rodrigo Fagundes e Wendell Bendelack.

Por que assistir ao documentário do Balão Mágico?

Quem não foi criança na década de ouro da Turma do Balão Mágico consegue entender muito bem o que foi o fenômeno do quarteto infantil. Fica muito claro que a fórmula de sucesso foi aplicada com maestria.

Entendeu-se que era necessário investir no universo das crianças, uma tendência que a gravadora CBS já notava no exterior. Somado a isso, era indispensável criar músicas de qualidade e deixar que os pequenos astros abusassem da sua inocência e pureza para cativar o público de casa. Foi isso o que fez o quarteto ser tão amado: os integrantes pareciam amigos do peito dos seus fãs.

Mas o documentário demonstra que a música de criança não podia ficar restrita a ela para ter a magnitude que se esperava. Foi aí que somou-se às boas letras e arranjos com parcerias musicais de sucesso. Novos Baianos, Djavan, Fábio Jr e Roberto Carlos gravaram com os pequenos.

Nos relatos dos ex-Balão, há muitas memórias de infâncias felizes. Eles trabalhavam, sim, tinham muitas responsabilidades, mas encaravam tudo aquilo como uma grande família e uma brincadeira divertidíssima nos palcos e até nos hotéis. Acontece que nem só de louros viveu o grupo.

À medida em que a então empresária Mônica Neves perdeu espaço para Paulo Ricardo, a brincadeira passou a ser vista com outros olhos.

Segundo o depoimento de Miriam Lemos, a palhacinha do balão, era Mônica a responsável por proteger as crianças de uma exploração de trabalho e por criar um ambiente mais acolhedor e compatível com a idade que os pequenos astros tinham. É por isso que todos eles falam com carinho de Mônica.

Mas com a chegada do empresário sucessor, após uma pressão da mãe de Simony, Maricleuza Benelli, tudo mudou. “Com aquele empresário, teve uma época que o Balão virou caça-níquel”, definiu Mike.

Simony em depoimento para o documentário (Foto: Reprodução/Star+)

Polêmicas do documentário: money no bolso

Entre as tretas documentadas está uma suposta parceria de Maricleuza e Paulo para ganhar mais dinheiro em cima do quarteto. Ela já era mais influente nos rumos do grupo e passou até a empregar familiares na produção do Balão. A mãe de Simony, contudo, afirma no que todos ganhavam o mesmo cachê.

O que ocorreu em algumas oportunidades, segundo ela, foi a venda de shows pagos por ela e o empresário. Dessa forma, independentemente do número arrecadado com a venda dos ingressos, as crianças receberam seus cachês. Mas eram eles que ficavam com o lucro ou com o prejuízo do evento.

Brincadeira de criança?

O artista plástico Vimerson Benedicto Cavanillas, o Tob, relata um episódio traumático em sua infância no período em que o grupo infantil ganhou um programa nas manhãs da Globo. Certa vez, muito nervoso e ansioso, ele teve dificuldade de acertar um texto para a televisão. Foi aí que o ator Orival Pessini, intérprete do Fofão, perdeu a paciência, jogou a máscara do boneco para longe e saiu do estúdio furioso. Ao se lembrar disso, o artista plástico foi às lágrimas.

Tob também parece ser o que mais tem sequelas por causa da infância superexposta e que implodiu de uma hora para a outra. Como ele era o mais velho do quarteto, também foi o que passou pelas transformações da puberdade antes dos demais. Foi a sua hora de dar tchau.

A saída do grupo é contada com certas mágoas por ele, e críticas de Mike e Jairzinho. Todos tinham a banda musical como um referencial de família e afirmam que a transição não foi feita de maneira saudável para as crianças que tinham o convívio diário umas com as outras durante tanto tempo.

Luiza Leão é jornalista, repórter e apresentadora. Já trabalhou em veículos como Notícias da TV, CBN, Terra e Estadão. Pernambucana radicada na Bahia, atualmente vive em São Paulo.
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