Desvendando os mistérios do filme MÃE, de Darren Aronofsky
Darren Aronofsky emplaca nas telonas mais um filme que chegou para causar discussões polêmicas e divergentes no meio cinematográfico. Controverso, visceral, metafórico, pesado. Adjetivos para tentar definir a nova obra do senhor dos thrillers. Mãe! O diretor e roteirista do filme – anteriormente conhecido (e reconhecido) por dirigir “Cisne Negro” e “Réquiem para um Sonho” – entrega para os espectadores um longa-metragem frio e cruel às pessoas que não têm preparo para ver pilares sociais sendo demolidos e os desejos humanos mais sombrios expostos diante dos seus olhos.
((( TEXTO COM SPOILERS )))
Mãe! tem uma trama centrada na vida de um casal cuja suposta paz é abalada com a chegada repentina de dois estranhos. Através de uma clara inspiração em outro renomado thriller psicológico (“O Bebê de Rosemary”, de Roman Polanski), a narrativa segue a partir da visão da personagem vivida por Jennifer Lawrence que, apesar da costumeira caricatura posta em suas personagens, surpreende a todos quando se encaixa perfeitamente em seu papel e o faz muito bem. Seu marido escritor, interpretado por Javier Bardem, completa a dinâmica central da história fazendo uma combinação adequada para o enredo. Com um movimento de câmera orgânico e angustiante atrelado ao silêncio como terceiro protagonista, a trama vai se enrolando cada vez mais durante os primeiros sessenta minutos de filme. O que se esperava ser explicado com a permanência dos desconhecidos – Michelle Pfeiffer e Ed Harris – na casa dos protagonistas torna-se uma grande interrogação que só cresce.
Darren guardou brilhantemente a verdade nua e crua para depois.
Seu objetivo inicial foi criar uma atmosfera de confusão mental e apreensão, fazendo com que ninguém nem sequer conseguisse ficar parado em suas poltronas (realizado com total sucesso). Portanto a inquietude foi o alvo da primeira metade do filme e a segunda foi… bem, o restante foi exatamente aquilo que o espectador tanto ansiou, o esclarecimento dos fatos acontecidos. Quando a gama de mistérios e delírios da película é exposta, o público acaba temporariamente paralisado por seu brilhantismo e suas metáforas muito bem lapidadas.
Mãe! aborda, de maneira singular e crítica, corporações e instintos básicos da humanidade: a natureza, a religião, o anseio pela fama e o caminho sem fim do ego.
OS MISTÉRIOS DO FILME MÃE
Na simbologia do enredo temos a decadência do escritor que se vê plenamente realizado quando passa a ter a sua obra vangloriada pelos estranhos que se tornam, ao longo da trama, uma espécie de seita de seguidores, tendo-o como messias. Em decorrência disso, ele fica cego perante os bizarros acontecimentos por causa de seu ego. Expandido ainda mais esta cama de gato, as personagens de Jennifer e Javier são simplesmente as representações da Virgem Maria e de Deus. O diretor usa as figuras religiosas para retratar os horrores do fanatismo e a crueldade do homem perante ao que eles próprios consideram sagrado – as cenas mais fortes da película trazem justamente os seguidores do escritor se alimentando do seu filho e essa mesma multidão espancando sua esposa.
Por fim, o thriller oferece como consequência para as atrocidades a força sobrenatural da natureza que esteve presente todo o tempo na personagem de Jennifer Lawrence fazendo com que tudo se conclua com um recomeço (como se fosse o dia da criação do homem – o sexto dia) e seu fatídico fim possa mudar.
Com um cuidado fenomenal com a estética e a psique do filme, Mãe! é uma obra cinematográfica forte e redonda que ainda causará muita discussão mundo afora. Sejam repulsas ou aplausos, o longa não deixará de ser comentado, o que faz com que seu objetivo de penetrar na mente do espectador tenha sido concluído com muito sucesso. Do dia de sua estreia em diante, nunca será visto um filme de Darren Aronofsky da mesma forma, assim como os thrillers psicológicos atingiram um novo nível não alcançado desde O Bebê de Rosemary.
Para os que tem estômago, apreciem o novo fenômeno dos cinemas com mente aberta e muita tensão. Para aqueles que não estão, preparem-se para o espetáculo violento da humanidade.